Hoje foi o primeiro dia que me senti bem desde o falecimento do meu pai, hoje é um dia diferente de todos os outros.
Fazem oito dias desde que meu pai desencarnou e nada tem sido como antes. A vida querendo ou não nos destina para esses momentos de luto, um momento que não deve ser vivido em vão. Um momento de se sentir em uma montanha-russa sem noção alguma do caminho que os trilhos estão te levando, uma coisa é certa, eles te levarão para momentos altos e baixos, momentos de muitas emoções a flor da pele.
A primeira coisa que senti foi como se eu tivesse nascido agora e como se uma nova vida tivesse se apossado da minha antiga, o que me obriga a reescrever velhos costumes com uma tinta de caneta nova. Isso significa ressignficar certos sentimentos ao passar por lugares que eu costumava ir enquanto meu pai estava vivo. Dando a esses lugares a roupagem da realidade atual, a imagem de uma vida de alguém que teve e não mais tem um pai. A sensação de sair de casa, fazer minhas atividades e ter em mente que não terei meu pai para ligar caso precise, ou que ao chegar em casa verei ele tocando suas músicas ou assistindo seus programas no Youtube. Não terei conflitos para resolver, motivos para lhe ajudar, razões para acreditar que ainda vai viver por muito tempo, pois agora ele se foi.
A falta da tua presença abriu um buraco emocional em mim, uma carência absurda se apossou nos primeiros dias e na mesma medida algo se preencheu dias após. A vida forçando a maturidade. Me encontro diferente, mais determinado a lidar com as circustâncias e aprender o melhor de cada experiência e continuar escrevendo, é claro.
Se existe uma palavra que pudesse definir nós dois é “intensidade” com você a expressando de dentro pra fora e eu de fora pra dentro. Observar essa característica de extroversão em você fez e faz até hoje eu desenvolver habilidades sociais. Eu admirava como você conseguia facilmente fazer os outros sorrir e como dava elogios e buscava momentos de descontração com desconhecidos sem nenhum tipo de segunda intenção.
A arte é a minha religião, por conta disso quando eu ouvir as músicas que você costumava por para tocar não sentirei tristeza, sentirei alegria e paz por ter te conhecido como pai.
Sua vida mesmo que não perfeita, mesmo com muitos erros cometidos, foi inclinada para o bem de si mesmo e do próximo e é isso que faz eu ter orgulho de você. Sua família é o seu maior legado e sou grato por fazer parte disso.
O processo é árduo mas não precisa ser solitário.
As primeiras coisas que ouvi foi “não se isole”, de fato o que eu mais queria era ficar quieto na minha a mercê do tempo e mergulhado nos meus sentimentos. Mas visitaram minha casa, perguntaram como a gente tava, fizeram presença, ajudaram com as burocracias, cansaram fisicamente e emocionalmente com a gente. Foi melhor não estar só.
Eu nunca recebi tanta mensagem positiva quanto agora e cada uma foi importante, cada abraço, cada sorriso, cada esforço pra me fazer me sentir melhor tem sido importante. Seria torturoso de mais passar pelo luto sem pessoas queridas ao lado, fazendo eu me sentir muito sortudo e grato por ter vocês no meu caminho.
Seja como for, a melhor forma de viver um luto é dividindo esse peso com alguém. Caso você esteja passando por isso, não tente ser o super-herói de si mesmo, se permita ser cuidado, mimado e não tenha pressa de ficar bem, com o tempo as coisas tendem a se encaixar.
Abraços.
